Imagine uma árvore cheia de flores laranjas-avermelhadas, vibrantes, que parecem chamar todos os passarinhos e insetos por perto. Linda, né?
Pois é justamente essa beleza que esconde um perigo mortal para a nossa fauna. Estamos falando da espatódea, uma árvore que você talvez conheça por algum apelido mais popular, como bisnagueira ou, pasmem, “xixi-de-macaco”.
Parece brincadeira, mas a situação é séria. Em Santa Catarina, cultivar essa planta pode dar multa – e não é pouca coisa. A proibição já existe desde 2019, mas o assunto voltou aos holofotes depois que órgãos ambientais emitiram novos alertas. A multa pode chegar a R$ 1.000,00 por planta! E se o responsável insistir no erro, o valor dobra.
Mas o que uma árvore tão bonita tem de tão perigoso assim? A resposta está nas suas flores. Elas são uma armadilha mortal, principalmente para as abelhas.
A Doce Armadilha para as Abelhas
Para as abelhas, a espatódea funciona como um copo de veneno decorado. A planta é originária da África, e não faz parte do nosso ecossistema natural aqui do Brasil.
Isso significa que nossas abelhas nativas não evoluíram junto com ela e não aprenderam a reconhecer seu perigo.
Dentro das suas lindas flores em forma de sino, a espatódea produz toxinas letais. Essas substâncias podem estar no néctar, no pólen ou até numa espécie de “gelatininha” (a tal mucilagem) que a flor produz.
A abelha, inocente, vai até lá para coletar alimento e acaba envenenada. Muitas morrem na hora, intoxicadas.
O problema é catastrófico. Sem abelhas, não há polinização. E sem polinização, as plantações não frutificam, as flores silvestres não se reproduzem e toda a cadeia alimentar fica comprometida.
Pense naquele pãozinho nosso de cada dia, no café, nas frutas que amamos. Tudo isso depende, direta ou indiretamente, do trabalho desses insetos. É um efeito dominó assustador.
A Lei é Clara: Corte e Substituição
A lei catarinense não deixa dúvidas. Está proibido plantar novas mudas de espatódea. E mais: as árvores que já existem, sejam em quintais particulares ou nas ruas, precisam ser cortadas.
Se você tem uma dessas no seu jardim, a responsabilidade de retirá-la é sua. Em propriedades privadas, pode ser necessário pedir uma autorização prévia da prefeitura para o corte, dependendo do tamanho e localização da árvore.
Já nas ruas e praças, a tarefa fica por conta da administração municipal.
A boa notícia é que, se a árvore estiver em uma Área de Preservação Permanente (APP), como perto de rios ou encostas, a retirada é mais simples e não precisa de autorização prévia. Só é preciso se comprometer a fazer a recuperação ambiental do local depois, com o acompanhamento de um técnico.
O Que Plantar no Lugar? A Hora das Estrelas Nativas
Agora você deve estar se perguntando: “Tudo bem, não posso plantar espatódea. Mas o que eu posso plantar no lugar?”.
A resposta é linda e cheia de opções: as espécies nativas! Trocar a espatódea por uma árvore brasileira é um ganho em todos os sentidos.
As nativas já estão acostumadas com nosso clima, nosso solo e, o mais importante, têm uma relação harmoniosa com os animais daqui. Elas oferecem alimento seguro para as abelhas, pássaros e outros bichos.
É como trocar um produto importado que não funciona direito no seu celular pelo modelo nacional, perfeitamente adaptado. A diferença é que aqui estamos falando de vida.
Especialistas do IMA (Instituto do Meio Ambiente) dão sugestões maravilhosas por região:
- No Litoral (Restinga): Que tal uma mangue-formiga ou uma aroeira? São árvores resistentes e perfeitas para esse ambiente.
- Na Mata Atlântica (Planícies e Encostas): Aqui você pode investir em um clássico: o ipê-amarelo. Ou então na corticeira, que também tem uma flor vermelha espetacular.
- Na Serra e no Planalto (Região da Araucária): A canafístula e a caroba são ótimas escolhas para essas áreas mais frias.
- No Oeste (Floresta Decidual): O majestoso ipê-roxo e a timbaúva se dão super bem por lá.
São árvores lindas, adaptadas e, o melhor de tudo, seguras. É uma chance de embelezar sua cidade ou seu quintal e, ao mesmo tempo, fazer uma boa ação pelo meio ambiente.
Um Aprendizado para Todos
No fim das contas, a história da espatódea serve como um grande aprendizado. Muitas vezes, na ânsia de decorar nossas cidades com algo “diferente”, trazemos plantas de outros lugares sem saber o estrago que podem causar.
Como explica a engenheira agrônoma Elaine Zuchiwschi, do IMA, a lei é um passo importante para nos fazer aprender e nos envolver no manejo consciente da natureza ao nosso redor.
É sobre conviver bem com o nosso quintal, com a nossa rua, com o nosso Brasil. E proteger as abelhas, aquelas trabalhadoras silenciosas que garantem o alimento na nossa mesa, é um dever de todos. Então, fica o recado: na dúvida, sempre escolha o que é nosso, o que é nativo. O planeta – e as abelhinhas – agradecem.
